segunda-feira, 11 de janeiro de 2021


 Como evitar o quase inevitável ?


Por um golpe forte do meio ambiente, nesta última semana a região da CBM voltou a resfriar (Figura 1), o que já ocasionou um impacto quase que imediato no comportamento dos transientes, que começaram a ter mais dificuldade de penetrar em baixas latitudes (em direção as regiões Sudeste e Nordeste), ficando mais tempo na região Sul do país (o que é importante para esta região também, até por conta de abastecimento de água, agricultura e dessedentação animal). No entando, este padrão oceânico, aliado ao Pacífico Equatorial frio e ao Atlântico Equatorial bastante quente favorece a ação  de bloqueios atmosféricos que impedem a configuração da ZCAS, por exemplo.

 Figura 1 - Avaliação das anomalias da Temperatura da Superfície do Mar na região dos Niños 1.2, Niño 3, Niño 3.4, Niño 4 e na região da CBM nos últimos 30 dias. (Fonte dos dados: OI/NOAA)

O aquecimento da CBM foi o único padrão de teleconexão que estava agindo favorável à ocorrência de chuva nas regiões SE, CO e NE (Bacia do rio São Francisco) neste mês de janeiro. Sem ele, a segunda quinzena começa a se mostrar mais seca, aliada ainda a uma fase desfavorável a ocorrência de chuvas da Oscilação de Madden-Julian  para os próximos 10 a 15 dias.

Além disso, o início de janeiro foi marcado pela enorme superestimativa das previsões de precipitação da maioria dos modelos atmosféricos,e por eventos fortes de chuva com caráter pontual e, em sua maioria, localizados nas bacias dos rios Paraíba do Sul, Doce e na cabeceira do rio São Francisco, que não possuem grande capacidade de armazenamento (ou quase nenhuma). 

Na figuras 2 podemos observar, respectivamente, as previsões climáticas de anomalia de precipitação do modelo NCAR/CAM 3.1 implementado no LAMMOC/UFF (esquerda) e as anomalias observadas até o dia 11/01 (direita). Mostrando que, mesmo com estes fortes eventos locais, as principais áreas da região Sudeste que possuem reservatórios estão com anomalias negativas de chuva.

 Figura 2 - Anomalias de precipitação previstas pelo modelo NCAR/CAM 3.1 implementado no LAMMOC/UFF (esquerda) e observadas (direita). Fonte das anomalias observadas: CPTEC/INPE.

Mesmo com todo este quadro complicado, que também é reflexo dos últimos meses e anos com vazões bastante abaixo da média histórica e de um solo cada vez menos úmido, o governo saiu da tarifa vermelha para a tarifa amarela, com base em uma previsão de aumento de vazões ( https://www.aneel.gov.br/sala-de-imprensa-exibicao/-/asset_publisher/XGPXSqdMFHrE/content/bandeira-tarifaria-para-janeiro-de-2021-e-amarela/656877?inheritRedirect=false&redirect=http%3A%2F%2Fwww.aneel.gov.br%2Fsala-de-imprensa-exibicao%3Fp_p_id%3D101_INSTANCE_XGPXSqdMFHrE%26p_p_lifecycle%3D0%26p_p_state%3Dnormal%26p_p_mode%3Dview%26p_p_col_id%3Dcolumn-2%26p_p_col_count%3D3

 Dezembro começou com cerca de 16 % de armazenamento nas Usinas do Sudeste e acabou, mesmo com dois episódios da Zona de Convergência do Atlântico Sul, com cerca de 19% de armazenamento. Armazenamento este que só atingiu 20% percorridos 10 dias do mês de janeiro. Isso contanto ainda com o baixo consumo aliado as festas de final de ano. 

O que esperar em relação a resposta técnica do Governo para esta situação, no mínimo muito preocupante, já que estamos vivendo um dos piores inícios de período úmido da história em relação as vazões das principais usinas da região Sudeste ? Medidas populistas neste momento na direção de abaixar a tarifa vão na contra mão do que deveria ser feito, que seria avisar a população do risco real de racionamento que estamos vivendo e incentivar de forma enérgica a diminuição do consumo (algo semelhante a um "racionamento branco" como aconteceu em 2001). 

Importante refletirmos que estas ações, por mais antipopulistas que sejam, poderiam nos resguardar de viver uma crise elétrica e econômica num período pós pandemia, que só iria servir para destroçar a nossa economia e população. 

Faço aqui um apelo neste post para que estas previsões de recuperação do nível dos reservatórios sejam reavaliadas com muita calma, e por uma equipe técnica multidisciplinar, que consiga trazer a tona a real possibilidade e as estratégias para evitarmos um racionamento ainda neste ano de 2021.