quarta-feira, 14 de julho de 2021

Precisamos desconstruir muitas questões sobre a crise hídrica.

Vou compartilhar aqui com vocês dois vídeos onde discuto um pouco alguns pontos importantes da crise hídrica.

https://www.youtube.com/watch?v=_76__oQm0_s&t=1s

https://www.youtube.com/watch?v=9bJkWH0LePU

Inicialmente precisamos entender que esse não foi o "pior verão da história" em relação a chuva acumulada. Pelos nossos estudos estamos vivendo sim os piores 10 anos da nossa história (considerando a chuva acumulada de dez em dez anos desde 1948). Isto significa que desde 2012 os totais de precipitação estão sendo menores, tanto na primavera quanto no verão, do que em todas as décadas anteriores, devido ao aumento expressivo do número de dias com bloqueios atmosféricos (como mostrado no primeiro vídeo). E com isso, o nosso solo vem ficando cada vez mais seco, dada a menor recarga do período úmido, além dos processos de degradação que estamos vivenciando no Brasil como um todo (desmatamento, queimadas, produção agrícola intensiva, etc). É importante ressaltar que o processo de transformação da chuva em vazão se dá, majoritariamente, no solo, contando com contribuições importantes de áreas florestadas e de matas ciliares (que contribuem inclusive com a integridade geomorfológica dos rios).

Em resumo: se o processo da crise hídrica e, consequentemente,  da crise energética, foi tão lento assim, por que não conseguimos nos preparar para ela ?

A realidade é que as variáveis ambientais utilizadas para a geração de energia elétrica no Brasil não estão inseridas nos modelos que fazem o planejamento e a programação do setor elétrico, e nem nos sistemas computacionais de aversão a risco. A chuva faz parte das primeiras duas semanas dos modelos de planejamento e programação do SIN (Sistema Interligado Nacional), por exemplo, em simulações que vão até cinco anos a frente. E as variáveis de vento e insolação ainda não estão inseridas, de forma efetiva, nesta cadeia de modelos.

Quando olhamos para esta realidade nos deparamos com uma correção importante em relação a crise hídrica: o problema não está na nossa matriz, predominantemente limpa e renovável de geração de energia elétrica, e, sim, na nossa incapacidade de planejamento e de predição das variáveis ambientais (ou climáticas) que estão relacionadas com essa geração. Sem dizer nos possíveis efeitos das mudanças do clima e do desmatamento que começam a ficar cada vez mais evidentes neste processo de diminuição das chuvas em parte das regiões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste.

Essa reflexão é importante e necessária, já que não fomos capazes de nos planejar para esta crise, mesmo ela estando inserida em um processo ambiental e climático, de praticamente uma década.

Por fim, gostaria de ressaltar  que este processo de modelagem, planejamento e aversão ao risco do setor elétrico precisa, urgentemente, ser revisto e fomentado, dada sua grande importância, com a inserção das variáveis ambientais, mesmo com suas incertezas, para que o nosso poder de planejamento e mitigação em relação a continuidade desta, ou de futuras crises hídricas, seja maior e mais eficiente do que o atual.

Na próxima postagem iremos ilustrar melhor a contribuição do solo neste processo (com a participação  da Engenheira Ambiental Larissa Haringer Martins da Silveira ) e também as previsões de um possível novo episódio de La Niña em 2021/2022.