quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

 Será que é possível descartar realmente a possibilidade de racionamento para 2021?

Tivemos nessa última semana um aquecimento bastante acentuado na Temperatura da Superfície do Mar (TSM) da região da Confluência Brasil-Malvinas (CBM), que é uma porção oceânica de grande variabilidade e que influencia bastante no clima do Brasil, sendo inclusive o meu tema de estudo no doutorado. Um artigo falando um pouco mais sobre ela pode ser encontrado no site do LAMMOC ( http://lammoc.sites.uff.br/publicacoes/ ). 

O título do artigo é: 

CATALDI, Marcio et al. Estudo da influência das anomalias da TSM do Atlântico Sul extratropical na região da confluência Brasil Malvinas no regime hidrometeorológico de verão do sul e sudeste do Brasil. Revista Brasileira de Meteorologia, v. 25, n. 4, p. 513-524, 2010.

O aquecimento da TSM nesta região pode ser visto na Figura 1, onde a TSM da CBM é ilustrado pela linha verde. Este aquecimento, de forma resumida, injeta energia nos transientes que chegam no Brasil possibilitando que eles se desloquem mais rapidamente pela região sul do país em direção às regiões SE e NE. Enquanto que o resfriamento possibilita que estes transientes tenham um caráter mais estacionário quando passam pela região sul do Brasil, favorecendo a ocorrência de maiores acumulados de chuva nesta região, como o ocorrido nos primeiros 20 dias de dezembro de 2020. Sendo assim, com esse aquecimento, os transientes ganharam uma "energia extra", mudando a característica da primeira quinzena de janeiro, de seca para chuvosa no sudeste, com possibilidade inclusive da configuração de uma Zona de Convergência de Umidade (ZCOU)

Figura 1 - Evolução da Temperatura da Superfície do Mar - TSM nas região da CBM  e nas regiões nos Niños nos últimos 25 dias.  Figura elaborada pela AMBMET Consultoria em parceria com o LAMMOC.  Fonte de dados: OI/NOAA.

Como a maior influência do aquecimento da CBM ocorre logo após as maiores taxas de aquecimento, não dá para garantir que este padrão continue para a segunda quinzena de janeiro. 

Mas a pergunta é: o quanto isso muda o risco de racionamento a ponto dele ser descartado?

Já mostrei em outras postagens como o enfraquecimento do regime de monções da América do Sul nos últimos anos pode estar influenciando na relação chuva-vazão, além da própria primavera seca que tivemos este ano. Além disso, tivemos dois episódios da Zona de Convergência do Atlântico Sul em dezembro de 2020 e o nível de armazenamento dos reservatórios do Sudeste passou de pouco mais de 16 % para 18.5% (http://www.ons.org.br/AcervoDigitalDocumentosEPublicacoes/IPDO-30-12-2020.pdf ). Isto considerando que dezembro historicamente é um mês de baixo consumo de energia, por ser um período de festas e férias coletivas.

Ou seja, para chegarmos perto de uns 50% de armazenamento no final do período úmido no SIN (considerando ainda que NE e NO também estão muito baixos e que o Sul é extremamente volátil), teríamos que ter um super verão para não depender de uma improvável chuva no período seco. Ou seja, ter uma primeira quinzena de janeiro mais úmida no SE e NE não muda o risco de racionamento. Ele fica um pouco menor, mas ainda está muito presente em qualquer estudo que considere o nosso passado recente, tanto climático quanto hidrológico, e que avalie um pouco da ciência quando se discute a influência do clima no tempo, que não nos mostra indícios de termos um super verão capaz de reverter estas condições de armazenamento. Então, acredito que medidas para conter o consumo de energia deveriam ser mais do que urgente.

 Aproveito para desejar a todos um ótimo 2021!! Que seja um ano de muita saúde, harmonia, reflexão, tolerância e compaixão para todos os seres deste planeta. E de muita luta para diminuirmos as desigualdades, as intolerâncias e as injustiças.  




2 comentários:

  1. Gostei da análise dessa correlação entre a TSM do Atlântico Sul na região das Malvinas com as chuvas no S, SE e NE.

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